sábado, 21 de julho de 2012

Arremate: Millenium


   Nesta postagem acabarei a resenha de dois dos últimos livros da trilogia Millenium. Para dar partido na resenha irei relembrar do primeiro livro da saga, Os Homens Que não Amavam as Mulheres. Que até então fora feito duas adaptações para cinema, a ultima, concorrendo ao Oscar.
   Tenho um bocado de experiência em livros que tratam de história. No muito, livros em que o autor toma o maior cuidado possível de não sair do enredo da história que ele está contando, e isso é claramente observado com Stieg Larsson. No primeiro livro da trama, a história começa com uma apresentação muito misteriosa dos principais personagens da saga toda, a nossa heroína contraditória é o ponto do novelo misterioso que Stieg traça, Lisbeth Salander. Qual seu passado? De onde veio? Quem são seus pais? E por que assim tão perturbável?
     São perguntas que o leitor vai fazendo ao longo do primeiro livro, mas que ao se deparar com tanta ação, investigação criminal, mistérios e histórias a respeito, deixa um tanto de lado aguardando o desenrolar. Que não acontece nem mesmo no final livro.
     Em A Menina que Brincava com Fogo o autor faz jus a sua escrita que nos prende e nos apresenta novamente os adoráveis personagens principais de antes, porém com características novas, deixando-nos ter uma ideia mais aguçada de quem são de verdade. É em a Menina que Brincava com Fogo que nos deparamos com o passado misterioso de Lisbeth Salander. E também, nos deparamos com a escrita criativa de Stieg entendendo que em nenhum momento em todos os seus livros há um ponto sem laço.
    Lisbeth Salander é sem duvida uma das heroínas nunca vistas em uma história também nunca vista como essas. Mikael Blomkvist, o grande jornalista que provoca não só auxilio em toda a trama, mas também o mais cativante, assim como todos os outros personagens que se encontram no segundo livro são incrivelmente necessários. A trama é sangrenta, misteriosa e com um desfecho perturbável, porém impressionante. Alguns momentos do segundo livro por tantas informações você se perde um pouco no que acreditar de fato, até que percebe que Stieg conduz facilmente a história sem perdê-la do foco, e então nos encontramos novamente em bilhares de perguntas que novamente não são respondidas no segundo livro.
    Para quem curte história criminal, o livro é cativante, porém cansativo. Não cansativo de chato, ou de uma espécie de livro que não chame a atenção. Cansativo pois encontramos muitas coisas em Sueco, nomes, ruas, bares, e se o leitor não possui um certo conhecimento da língua, a leitura vai entrando em uma espécie de consecutivas travas toda vez que você se depara com uma palavra estranha.
    Ao meu ponto de vista isso não foi um problema, me vi muitas vezes frustrada por não saber a pronuncia de uma palavra sueca ou do como defini-la, mas não desisti da leitura.
       No Terceiro livro da Trilogia, em A Rainha do Castelo de Ar, a trama fica suspensa no que se pode chamar de ponto de interrogação. A trilogia Millenium trata-se de uma trama criminal, com personagens secos, distintos, reais e cheios de defeitos humanos consideravelmente perturbáveis. Como o caso entre Mikael Blomkvist e Erica Berger que é casada com seu marido Lars, cujo conhece de fato a relação entre a esposa e o jornalista e aceita. Como a vida sexual de Lisbeth, seus vários amantes, sua vida passada, seu pai um agente secreto russo da policia especial que se intitula a Sapö, seu irmão até então desconhecido que é o qual tenta matá-la e que some durante o livro inteiro e só ressurge no final. Tudo é muito incrível de informações e esse é problema com o terceiro livro. Muitas informações, muitos personagens saídos do nada, muita trama, muito suspense, é tudo muito. Aliás até as páginas são muitas. Você fica sem entender porque a história se enrola tanto para chegar a um ponto. E esse ponto ocorre somente por volta das quinhentas páginas se seiscentas e oitenta e poucas.
    Stieg se preocupa muito com como apresentar seu livro, percebe-se sua preocupação em não querer tornar seus livros em um romance criminal clichê e sim apenas em uma investigação criminal de alto porte. Isso fica notável quando todas as fontes que são citadas no livro são logo explicadas como reais. Você entende que não é uma ficção criminal bobinha e qualquer, e sim um assunto importante sobre a economia Sueca, sobre o parlamento, a justiça, a burocracia, os deveres atribuídos ao estado e quando muito são cumpridos, Stieg sabe realmente do que está escrevendo. É um livro que nos faz pensar sobre como as pessoas são de verdade, que todos nós temos nossos segredos, nosso lado negro, nosso ponto fraco e logo, o nosso preço.
    Quanto ao romance, ele é deixado de lado e quando abordado Stieg Larsson não faz esforço para que pareça romântico. Escreve com uma seriedade e afinco sem transparecer drama, fala de sentimentos em metade de uma página, e logo muda a direção. Nada de amor, paixão, coisas assim. Os personagens se envolvem sim entre si, como Mikael Blomkvist com suas várias amantes e até mesmo um caso com Lisbeth Salander, mas nada ultrapassa, além disso, de sexo e envolvimentos que servem apenas para descontrair a trama. Ao longo dos livros é abordada a paixão que Lisbeth Salander sente por Mikael, mas logo isso é deixado de lado e a personagem nega tão profundamente esse amor que logo o leitor não espera que nada aconteça, e que realmente não acontece.
   O terceiro livro foi arrebatador, uma das minhas partes preferidas foi o tribunal onde todo o desfecho da história foi explicado, em que a advogada Annika que cuida do caso de Lisbeth toma partido da narrativa de como tudo aconteceu de verdade.
  Gostei realmente de todos os livros, mas o que ainda é meu preferido é o primeiro, e não saberia dizer por que. O segundo e o terceiro são bons, mas como eu disse, o terceiro entrou naquela típica parte de “preciso terminar tudo isso, mas não sei como eu faço” e então é despejado sobre o leitor bilhares de informações. A revista Milleniun realmente é a parte legal dos livros, e você logo entende por que o nome dos livros é o nome da revista onde o Mikael trabalha, afinal os mesmos assuntos que são tratados na Millenium são discutidos no enredo do livro, como uma história principal, e isso é sem duvidas genial.
   Por fim, Stieg Larsson que hoje já é falecido, entrou para a minha lista de melhores escritores. Talvez por sua perspicácia, por sua forma em criar enredos tão marcantes, pelas longas horas em que li cada uma de suas palavras encantada com a forma jornalística e criativa que atribui a cada uma. Millenium foi sem duvida uma grande trilogia, e grande no sentido literal mesmo, mas que não me arrependo de ter lido, embora com palavras complicadas, aprendi muito com a história e valeu a pena cada segundo dedicado em compreende-lo.


Annabel Laurino





 - Informações Adicionais 

Editora: Companhia das Letras 
Páginas: 1° Livro: 525
              2° Livro: 607
              3° Livro: 686
Autor: Stieg Larsson 
Recomendação: Aprovada





terça-feira, 29 de maio de 2012

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Os Livros da Nova Era

    Que a informática dominará o mercado editorial, ninguém discute. Assim como já podemos "ler" um livro pelo toca-fitas do carro, muito em breve será possível devorar um Jorge Luis Borges através da tela do computador. Outro dia, conversando com um editor, fui devidamente catequisada: o livro como conhecemos hoje, feito de papel, está condenado. Abram alas para o livro digital!
    Diante dessa profecia desanimadora, recorri aos clichês de praxe: Como levaremos o livro para a praia, para a cama, para a rede? Elementar, minha cara Neanderthal, respondeu o editor. O computador não será o trambolho que conhecemos hoje. As telas serão menores do que uma calculadora de bolso e poderão ser acopladas nuns óculos, por que não?
    Seja feita a vontade de Bill Gates. Mas, no que me diz respeito, não vou deixar meus livros virarem peça de museu. O livro não é um produto descartável: usou, joga fora. Nunca fiz isso nem com namorado, imagine com um livro que é muito mais útil.
    Existe uma sensível diferença entre gostar de ler e gostar de livros. Muitos dos que se incluem no primeiro grupo lêem apenas revistas, manuais de instruções,outdoors, bulas de remédio, encartes de discos, volantes distribuídos em sinaleiras e um que outro best-seller, tudo em nome da informação. Nada contra, antes isso do que ser analfabeto.
    E há os fanáticos. Aqueles que tem com o livro uma relação intima, quase religiosa, e não deixam para abri-lo só quando a tevê está estragada. Eu, por exemplo, gosto do cheiro dos livros. Gosto de interromper a leitura num trecho especialmente bonito e encostá-lo contra o peito, fechado, enquanto penso no que foi lido. Depois reabro e continuo a viagem. Gosto de sublinhar as passagens mais tocantes. Gosto do barulho das páginas sendo folheadas. Gosto das marcas de velhice que o livro vai ganhando: orelhas retorcidas, a lombada descascando, o volume ficando meio ondulado como manuseio. Tem gente que diz que uma casa sem cortinas é  uma casa nua. Eu penso o mesmo de uma casa sem livros. É como se fosse habitada por pessoas sem imaginação, que não tem histórias pra contar. Prefiro casas mal assombradas pelos fantasmas de Virginia Woolf, Monteiro Lobato, Dorothy Parker. Prefiro até mesmo um Paulo Coelho jogado em cima do sofá do que uma almofada comprada em Santiago de Compostela, vejam a que estado cheguei.
    Reconheço que esta minha resistência à tecnologia é antiga e inútil. Até hoje morro de saudades das charmosas máquinas de escrever manuais, com seu tlec-tlec-tlec, o chão lotado de papéis amassados e um cigarro abandonado acesso no cinzeiro. Acho a cena romântica à beça,eu que nem fumo. Não nego que viver sem computador, hoje, é o mesmo que viver sem geladeira. Mas não consigo imaginar o livro deixando de der um objeto para ser um equipamento. O livro podendo ser apagado. As livrarias se transformando biblioteca cabendo numa única gaveta. Como serão as sessões de autógrafos? Que graça terão as aulas de inglês, se o book não estará mais on the table?
    Que venham as Bienais e Feiras do Livro cibernéticas, mas não se apressem por minha causa. Folhear um livro com o mouse não haverá de ser meu hobby preferido.




Martha Medeiros - Topless/Outubro de 1995









segunda-feira, 28 de maio de 2012

Millenium 1 - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres

   

 Editora: Companhia Das Letras
 Páginas: 525 
 Autor: Stieg Larsson 



   
Depois de tantos livros que já li, acredito que as verdadeiras histórias devem ser aquelas que quando começamos a ler tem o poder de nos fazer entrar no enredo, sem que percebamos. 
    Millenium 1 é assim. Nas primeiras páginas, quando comecei a ler senti algo de diferente de todos os romances criminais que já li. Percebi um tom diferente em que a história era contada, me senti instigada com a primeira mordida de mistério que logo lhe é servida nas primeiras páginas, pois logo eu soube que aquela misteriosa fagulha era só o começo de toda a instigante história que viria a seguir. 
    Mikael Blomkvist  supera Sherlock e até mesmo o detetive Poirot. Aos meus olhos eu me vi fascinada com um personagem que cresce ao longo da história, completamente humano, porém, inteligente e com uma certa sensibilidade que é admirável. Lisbeth Salander é uma das personagens que me ganha também, e me vi pouco me importando se ela fosse um caso de problema psicológico ambulante, comecei a vê-la como se estivesse frente a frente com ela, e assim como muitos personagens ao longo da história, a respeitá-la por sua voracidade. Até então se pensa que ela é completamente perturbada, o que eu, discordo completamente. 
    A dupla principal que é apresentada é inédita. Em alguns momentos do enredo eu me vi em Estocolmo, ao lado de Mikael, de Lisbeth, a procura de um mistério indecifrável, eloqüente. 
    Stieg Larsson subiu no meu conceito. Quando vi o filme eu me vi apaixonada pela história, e sim, eu vi primeiro o filme. Só então, instigada, eu comprei o livro e comecei a ler, devorei-o.
    Inteligente, voraz, Millenium é um enredo criminal curioso e totalmente cultural, desde o capitalismo, nazismo, conceitos éticos, pesquisas, tudo lhe é apresentado de uma forma sagaz, sem deixar o leitor entediado, pelo contrário, ainda mais faminto.
    A história se passa na Suécia, Estocolmo. Henrik Vanger é a chave da família Vanger, o pilar central da história. Velho e um tanto debilitado, Henrik passou sua vida inteira em torno de um mistério não solucionado, o desaparecimento de sua sobrinha Hariet Vanger. 
    O passado mescla-se com o futuro. Um passado cheio de peças perdidas de um quebra cabeça que não faz sentido. Em 1966 Hariet Vanger desapareceu em um dia aparentemente comum, até que um acidente eclodiu na ponte de Hedested, onde no dia toda a família Vanger, o clã, se encontrava presente para uma reunião na casa de Henrik. Todas as pessoas comoveram-se com o acidente e colocaram-se para ajudar, todos dispersos com o choque surpreso, quando deram por si, Hariet Vanger havia sumido. Buscas incansáveis, fotos e muita, muita procura, fora a dedicação da vida de Henrik Vanger nos 36 anos a seguir, onde procurar Hariet tornou-se seu maior hobby insolucionável desde o dia em que um acidente de carro poderia ser ou não o motivo de um desaparecimento aparentemente sem pistas. 
    E é nessa teia de aranha confusa que o jornalista econômico Mikael Blomkvist entra. Depois de ser acusado no tribunal por ter feito uma critica econômica contra o fascista Wennerström, e uma crise de credibilidade atinge a sua revista, Millenium, do qual é sócio. Mikael recebe um convite inusitado de Henrik para solucionar o caso Hariet com uma proposta de pagamento irrecusável, a prova de que fora acusado injustamente e que Wennerström é culpado
    Com conjuntos de fatos surpreendentes, os dois personagens principais, um jornalista e uma hacker punk se encontram em uma narrativa muito bem contada, que da prazer em ser lida. 
    O mistério, a forma como a história é contada, os fatos cruéis de violência contra as mulheres que tanto é famosa na Suécia, o final surpreendente, a desenvoltura, a realidade, enfim, Millenium é uma superação criminal nunca vista. Para mim é além de uma obra de um escritor talentoso, é uma obra bem descrita, tem foco, tem fundamentos. 
    Enquanto li não consegui nem um segundo deixar de ficar lendo por muito tempo, como eu disse, é um livro que nos prende. Nas primeiras páginas da história parece uma apresentação sutil, com todo o personagens sendo apresentados, mas logo você percebe que a coisa é séria, com mapas e descrições de uma família industrial capitalista das mais cruéis cheia de podres e imperfeições. 
    Millenium não é uma história para quem quer se divertir, ou gosta de uma leitura mansa. É uma história massacrante que pode até mesmo tanto deixar o leitor de cabelos em pé como também revoltado com alguns fatos que sabemos que estão aos montes por ai. 
    Além de tudo, além da admiração pela história, vem logo a admiração pelos personagens, a uma delas é claro, a mais marcante. A que nos faz logo que terminamos o livro, roer os dedos e querer logo ler a continuação, desvendar a história de Lisbeth Salander, a garota punk com a tatuagem do dragão.







Annabel Laurino.