quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Por isso A Gente Acabou



    Editora: Cia. Das Letras
    Páginas: 368 
    Autor: Daniel Handler 
    Ilustração: Maira Kalman
    Tempo para ler: 3 dias e meio
    Preço: 34,50 ( submarino )




    Se houvesse um prêmio que pudesse ser entregue ao escritor mais criativo eu o entregaria ao Daniel Handler sem nem ao menos pestanejar, porque fala sério, Por Isso A Gente Acabou é incrivelmente criativo e além de tudo, cativante enquanto se torna ao mesmo tempo um tanto triste. 
    Já vinha algum tempo que eu estava namorando esse livro nas livrarias, mas eu nunca comprava, achava ele muito lindo e a história instigante, mas como eu tinha uma lista imensa de séries para completar eu sempre ia lá e comprava o volume de alguma e não comprava ele. Até que um dia uma amiga minha, a queridíssima Bianca me deu de presente no meu aniversário. Devorei ele em 3 dias.
    Por Isso A Gente Acabou segue a linha de livros que eu geralmente curto, é um romance com um toque extremamente cativante, com um diferencial muito incrível e ao mesmo tempo com aquele quê de drama (mas sem que me faça cortar os pulsos).
    Para quem não sabe Daniel é o mesmo escritor da série Desventuras em Série que até possui o filme, (será um dos próximos livros que irei falar), muita gente nem desconfia disso porque o Daniel usou um pseudônimo de Lemony Snicket para contar suas histórias da série Desventura. 
    Mas, vamos ao que interessa. 
    Tudo começa com uma caixa azul. Isso mesmo, uma caixa. 



"Duas tampinhas de garrafa,
um ingresso do filme Greta em fuga,
um bilhete seu,
uma caixa de fósforos.
o seu transmissor,
o livro da Joan,
um açucareiro roubado.
um caminhão de brinquedo,
aqueles brincos horríveis,
um pente de motel
e todo o resto.



É isso Ed. 
Foi por isso que a gente acabou."

        Nossa personagem principal chama-se Min Green. Min é uma adolescente comum que ama (idolatra) filmes antigos e os usa em contraste com a realidade em sua volta. Eu gostei muito da Min, quer dizer, ela pareceu completamente real enquanto eu lia e me surpreendi demais ao constatar que Daniel é um homem muito mais velho e ao mesmo tempo que eu lia realmente não parecia que essa personagem adolescente saiu da mente de um homem mais velho. Mais um ponto para esse escritor tão criativo.
     Min tem uma vida comum, com a escola, com seus filmes e seus amigos e as idas a lanchonete de sempre quase todos os dias. Ela parece ser do tipo de pessoa cultural, por isso é nomeada pelas pessoas a sua volta de "a garota das artes", o que ela não concorda, mas no fundo você acaba pensando que sim, ela é muito das artes. 
    A história começa com a caixa sendo entregue ao Ed, o seu ex-namorado. A caixa acima é retratada no livro assim como todos os outros objetos listados, isso porque eles são ilustrados pela ilustradora Maira que não só fez um trabalho excelente como também deixou a história ainda mais interessante e sim, cativante. 
    Somos levados para as lembranças de Min, é assim que a gente entra na história e de como tudo aconteceu para que a Min e o Ed terminassem. O que parece um pouco triste, a gente começa sabendo o fim, que tudo acabou. Mas por que eles acabaram? Como aconteceu? E é isso que instiga a ler esse livro, a entender um fim de um relacionamento, a compreender como as coisas realmente degringolam. E falando sério, quem nunca passou por isso, não é mesmo? Quem nunca passou por uma desilusão amorosa e depois morreu de raiva de tudo que aconteceu? Com a Min não foi diferente, mas a maneira dela de descontar a sua raiva com o término do namoro foi simplesmente entregando essa caixa ao Ed, essa com os objetos que marcaram a história, os objetos que serão o inicio de cada capitulo do livro e que não estão ali a toa, eles nos levam ao ponto exato do porque tudo teve um fim.

   "Caro Ed,
    
    Daqui um segundo você vai ouvir o tump. Na porta da frente, aquela que ninguém usa. Quando ela tocar no chão, vai balançar as dobradiças, porque é pesada e importante, e vai ter esse outro barulho junto com o tump, e a Joan vai tirar os olhos de seja lá o que ela estiver cozinhando. Ela vai olhar para a panela de novo, preocupada, porque, se for até a porta para ver o que é, vai cozinhar demais. Eu a vejo franzindo a testa no reflexo do molho borbulhante ou seja lá o quê. Mas ela vai ver, ela vai. Você não, Ed. Você deve estar no andar de cima, suado, sozinho. Você devia estar tomando banho, mas está de coração partido na cama, eu espero, por isso é a sua irmã, a Joan, que vai abrir a porta mesmo que o tump seja para você. Você nem vai saber o que é nem vai ouvir o que está sendo jogado na sua porta. Você não vai nem entender o que aconteceu.
    O dia está lindo, ensolarado e tudo mais. É daqueles dias em que você acha que tudo vai dar certo etc. Não era o dia para isso, nem para nós, que saímos de 5 de outubro a 12 de novembro. Mas já é dezembro e o céu está claro, assim como tudo agora está claro para mim. Estou contando porque a gente acabou, Ed. Estou escrevendo, nesta carta, toda a verdade sobre o que aconteceu. E a verdade é que, porra, eu te amei demais." (in página 9)
  
     O sofrimento com o rompimento é claro ao longo da história. Min é uma adolescente de 16 anos e realmente namorar o Ed Slaterton não estava nos seus planos. Para começar o Ed é o oposto da Min, jogador de basquete e o cara sensação da escola onde muitas meninas babam por ele. E Min nunca assistiu a um jogo de basquete se quer, muito menos pensou em gostar do Ed. Até que um dia eles conversam na festa de aniversário do melhor amigo de Min, o Al, onde a festa é chamada de Dezesseis da Amargura. 
    Ed Slaterton não é um personagem que eu julgo gostar, na verdade é o tipo de cara que eu não gostaria caso eu tivesse a oportunidade de conhecer. É o tipo de cara que bebe uma cerveja com os amigos para parecer descolado e namora muitas garotas para nunca parecer que está sozinho, que dirige um carro para ser bacana, que joga basquete para ser esportivo. É como uma etiqueta ambulante demonstrando seu alto valor. Mas no fundo, sem conteúdo algum. Não há no livro nenhuma impressão errada de qualquer personagem, é isso que da graça a história, é você mesmo que tira as conclusões. O Ed não é um vilão, ele é um adolescente comum, que estuda em uma escola comum e deu o caso de namorar a Min, o oposto dele.
   Todos os personagens são legais, o Al é o meu favorito. Isso porque ele me deixou com água na boca e com muita vontade de xingar o Daniel por não ter deixado a história se estender nem que fosse só mais um pouquinho. Ficou clara durante a história o interesse do Al pela Min, mas isso ficou completamente subtendido, afinal o lance do enredo é a Min e o Ed, e porque eles acabaram. Mas confesso que fiquei triste quando não surgiu nem uma iluminação do Al se declarando pela Min e reticências, reticências. 
    Como eu disse, cada capitulo inicia-se com uma ilustração de algum objeto que marcou a história e que está dentro da tal caixa azul onde a Min guardou cada um deles e depois, com o término do namoro, fez questão de entregar ao Ed.  

     

    A irmã do Ed é a Joan. E além do Al, é uma das minhas personagens mais queridas da história. A Joan vive cozinhando e está sempre inventando umas coisas loucas na cozinha. Ela é quase formada em cinema, e o tal livro que inicia o capitulo (as vezes aparece ilustração ao final de um capitulo também), é o livro que a Joan empresta para a Min. 



O açucareiro roubado.


    Mais a frente tem outros personagens, claro, como as outras amigas da Min, a Lauren e a Jordan. Também a estrela de cinema Lottien Carson, da qual a Min e o Ed perseguem após a saída do filme Greta em Fuga, achando que a tal Lottie que interpreta a Greta é realmente uma velha senhora que sai da sessão e vai descendo a rua. Desde a tal desconfiança dos dois eles programam homenagear a tal senhora que a Min apenas desconfia que é a Greta do filme com uma festa no parque e uma comida especial chamada Surpresa de Caviar, onde é um iglu de ovos quadrados. Isso é um tal substancial da história ao longo dos capítulos. 

"Suspirei e apontei o caminho. Eu te dei uma aventura, Ed, estava bem diante do seu nariz mas você não viu até eu ter que chamar a sua atenção, e foi por isso que a gente acabou."

"- Qual é a sua de filme antigo?
- Como assim?
- Como assim? Você mistura filme antigo com tudo. Aposto que está pensando em outro agora."


    Por Isso A Gente Acabou é uma leitura leve e rápida, a grossura do livro se dá as várias ilustrações, mas ao todo a história é bem pequena. Novamente, é um livro perfeito para ser lido nas férias. Quando eu li, eu fiquei um tanto tocada pela perfeição dos detalhes e a dedicação com que o autor nos apresenta a história. É um livro diferente de um escritor fantástico. Ele quis inovar e realmente conseguiu. Não é um livro que me fez ficar apaixonada durante horas pensando em cada personagem ou que me fez emocionar pela história, mas sem duvidas é um livro mágico que me tocou bastante, pelos objetos da caixa, pela frustração da Min e como ela passa a contar a história nos levando a um final que a gente já sabe que existe, mas não temos nem ideia de como aconteceu.







    

   Leiam Por Isso A gente Acabou. É Mágico. É cativador. Vale mergulhar nessa experiência unica de ilustrações incríveis e uma história completamente bem escrita e criativa. Da saudade depois. Pena que realmente acaba.



Avaliação: 4.5/5




Annabel Laurino.
    

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